Nem futuro nem oportunidade
Sabe a Prefeitura Municipal de
Carazinho, aquela que esses dias lançou a campanha “Não dê esmola, dê futuro”?
Pois veja só o que essa
danadinha aprontou dessa vez: quem é microempreendedor individual (também
chamado de MEI), desde setembro do ano passado está dispensado do pagamento de
alvará.
Quando soube disso, fiquei
feliz, pois sou MEI. E num ano em que a Editora Os Dez Melhores penou, como
todas as miniempresas, para continuar respirando, quaisquer reais a menos de
despesa são muito bem-vindos.
Apesar disso, o boleto chegou
normalmente, é claro, com vencimento para amanhã: dia 31 de março de 2021.
Como não consegui emitir a
dispensa de pagamento de alvará diretamente pelo Portal do Empreendedor, ontem
resolvi telefonar para a Sala do Empreendedor, aqui de Carazinho, mantida pela
prefeitura em parceria com o Sebrae, para saber como deveria proceder para
obter a tal dispensa.
E qual não foi minha surpresa ao
ouvir que, sim, os MEIs estão liberados de pagar alvará, mas a prefeitura
DECIDIU COBRAR os microempreendedores carazinhenses mesmo assim. Foi o que o
rapaz que me atendeu disse.
Não acreditando no que meus
ouvidos ouviam, fui pesquisar na internet e encontrei a resolução CGSIM nº 59/2020,
publicada em agosto de 2020, que isenta os MEIs do pagamento do alvará.
E lá diz, no artigo 7º:
"É vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios exigirem taxas, emolumentos,
custos ou valores a qualquer título referentes à abertura, à inscrição, ao
registro, ao funcionamento, ao ALVARÁ, à licença, à dispensa de licença ou
alvará, ao cadastro, às alterações e procedimentos de baixa e encerramento e
aos demais itens relativos ao MEI”.
De onde eu venho, VEDADO
significa proibido, mas aqui em Carazinho decerto tem outro sentido.
De posse desta resolução, me
dirigi pessoalmente até a dita Sala do Empreendedor, a fim de verificar por que
razão a prefeitura de Carazinho DECIDIU, de livre e espontânea vontade, COBRAR
o alvará de seus microempreendedores, principalmente em ano de pandemia, caos e
crise generalizada, onde centenas e milhares de pequenos estão fechando as
portas por completo e absoluto desamparo.
Fui atendida por uma moça (muito
gentil, aliás) e ela me explicou que “por conta das eleições, Carazinho não se
adequou às mudanças em tempo” e, por isso, neste ano, os MEIs daqui ainda terão
que pagar o alvará.
Mas são só os MEIs daqui, que
fique claro. Conversei com uma amiga de Sananduva, que é contadora, e ela me informou que, lá, basta o MEI levar o carnê de
pagamento até a prefeitura, dar baixa e fim. Isso porque, em Sananduva, como no
restante do país, VEDADO significa VEDADO.
Na Sala do
Empreendedor, também recebi uma informação que talvez te interesse: o pagamento
dos alvarás foi prorrogado para setembro. Você sabia, carazinhense?
Provavelmente não, né, porque só saiu uma notinha em um único jornal. Quer
dizer, minto. Em outro, foi publicado no dia 4 de março de 2021 que “A
solicitação de alvará, de forma online, poderá ser feita por pessoa física,
jurídica e MEI. O que deverá ocorrer em 2022, já que precisa constar na Lei
Orçamentária a intensão (sic) do prefeito de que os microempreendedores
individuais sejam isentos das taxas de alvará”.
Intenção do prefeito? Isso é uma resolução do CGSIM, o Comitê para
Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de
Empresas e Negócios! Não tem NADA A VER com a “intensão” do prefeito! Poupe-me.
Por fim, tive que ir ao setor de
arrecadação da prefeitura tentar descobrir se enviariam outro boleto ou o quê. Aproveitei
e perguntei sobre a questão do MEI. O cara que me atendeu disse que esse ano os
MEIs carazinhenses vão pagar alvará normalmente. Falei da resolução e ele me
disse que ela só vale para o ano que vem. O que não é verdade.
Agora ligue os pontos.
Semana passada, lançam aquela
campanha odiosa sobre “não dar esmola, dar oportunidade”. Mas a própria
prefeitura não dá oportunidade, nem para quem não tem e nem para quem poderia
dar oportunidade. E não só não dá como também tira, porque os MEIs de Carazinho
vão pagar indevidamente um valor do qual, por direito, estão isentos.
Em plena pandemia.
Onde tantos passam fome.
Em que muitos fecham seus
negócios.
E eles ainda têm a cara de pau
de dizer que somos nós – alguns famintos, alguns falindo – quem devemos “dar
futuro e oportunidade”.
Que assim seja.
Porque eles com certeza não vão
dar.