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Mostrando postagens de junho, 2018

Com licença,

Pedimos licença, senhoras e senhores Monas e nonas, manos e manas Estamos passando, pois somos o bando, o bonde, a banda, a caravana Somos carruagem desgovernada Que não vira abóbora depois da ceia, Não usamos sapatos, não fazemos cena Nossos pés não tocam A superfície plena do palco Sobre o qual os atores encenam e acenam à realeza Por cães latindo vamos seguindo Por tolos bradando vamos passando Em meio a lobos disfarçados de manso cordeiro O caos, o Cão, o caô, o sorrateiro Feitiços, macumbas, rituais; Ordeiros e matreiros Nada, nada freia o bando que vai Nada freia, nada segura, nada detém De pés descalços vamos indo além Por sobre macumbas, profetas e falso desdém Ninguém nos atém, estão todos muito aquém Pedimos mais uma vez licença, senhoras e senhores Monas e nonas, manos e manas Carcaças, mordaças, carapaças e trapaças Peço que abram espaço, todas as desgraças! Pois somos o bando, o bonde, a banda, a caravana. N

Os corruptos originais

A greve dos caminhoneiros – e todos os efeitos colaterais que ela trouxe para nossa vida cotidiana – fez muito brasileiro descobrir o óbvio: nossos políticos não são de Marte. Eles não são alienígenas que vieram de uma galáxia muito distante só para nos roubar e nos fazer de otários. Não, nada disso! Eles vêm diretamente do útero da nossa sociedade; eles são parte integrante de cada um de nós. A verdade dura, nua e crua é uma só: um país que produz políticos corruptos em série, como é o caso do Brasil, é um país de cidadãos corruptos. Assim sendo, em meio a uma crise política, econômica e popular, no epicentro de uma greve nacional, resolvemos vender um saco de batatas por R$500. Cobramos quase R$10 o litro da gasolina, e uma dúzia de alface, que antes saía por R$8, passou para R$20 em questão de algumas horas. Durante a paralisação, que buscava justamente frear a roubalheira sem fim, decidimos que era uma boa ideia roubar também. Então superfaturamos todos os produtos, com a c

Os porcos e os homens

Devo advertir que este texto não é pra você, que acredita que o Lula é um herói. Este texto também não é pra você, que acha o juiz Sérgio Moro um herói. Tampouco é pra você, que considera o Bolsonaro um herói. Resumidamente, este texto não é para quem acredita que existe algum herói neste lodo de corrupção no qual chafurdamos com tanta convicção. Imagino que tenham sobrado poucos leitores no quinto parágrafo de um texto como este, mas é exatamente para estes leitores que eu quero escrever. Para aqueles que, assim como eu, estão mais perdidos que cachorro em dia de mudança no meio deste Gre-Nal politiqueiro de quinta categoria. Porque é tudo preto ou branco, sem opções de cinza: ou se torce pelo Lula ou se torce pelo Moro. Ou é pão com mortadela ou é coxinha. Ou odeia os pobres ou odeia os ricos. Ou defende o bandido ou quer o bandido morto. Ou está comigo ou está contra mim. Entretanto, eu não consigo dividir o mundo entre nós e eles – pelo menos não aqui, na parte debaix

Vaidade Intelectual

O título deste texto dá nome a uma característica bastante comum em pessoas estudadas e eruditas: se achar superior por ser estudada e erudita. Então debocham de quem fala errado, de quem não sabe escrever direito, de quem não consegue se expressar com clareza.   O que estas pessoas letradas ignoram – tornando-se, assim, tão ignorantes quanto quem criticam – é que saber escrever e se comunicar com propriedade são privilégios. Ser intelectualmente ativo, comunicativo e instruído, e saber conectar as informações para transformá-las em conhecimento, geralmente são características de pessoas com acesso à educação de qualidade, dentro e fora da escola. Uma regalia para poucos afortunados neste país de nome Brasil. Eu, por exemplo, que me chamo de escritora, sou filha de leitores, e cresci em um lar abarrotado de livros, revistas, jornais e gibis. Frequentei por toda a vida um colégio particular, fiz aulas de desenho, pintura e balé, participei de oficinas de artesanato. Tenho formação