Um uivo para Fausto Wolff
Fausto Wolff me ensinou que existe um jogo em andamento. Um jogo que eu e você não jogamos, porque afinal somos as peças, não os jogadores. Algumas estão cientes do jogo; outras não. Algumas acreditam que são jogadores; outras sabem que não são. Fausto Wolff sabia do jogo e sabia que não jogava; era apenas mais uma peça em cima do tabuleiro, a bola de bilhar ou futebol, as cartas sobre a mesa e sob as mangas. Mas, ao contrário das demais peças que, conformadas à sua condição inanimada, desempenham sua função sem dar um pio, Fausto desgarrou-se do papel de mero utensílio. Recusou-se a ser só mais um elemento inerte nas mãos de quem joga o jogo do qual nunca poderemos sair vitoriosos. Peças não jogam; logo, não podem vencer. Quinze anos atrás, quando conheci Fausto Wolff, eu já desconfiava que havia algo errado no paraíso. Um incêndio ardia sob a chuva fina. Alguma coisa não cheirava bem, eu podia pressentir. O caminho que se esboçava, emprego-casamento-chefe-filho-prestação,