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Mostrando postagens de abril, 2018

O corpo, a mente e o biquíni

Tenho 33 anos de idade, e sabe qual foi a última vez que usei um biquíni? Quando ainda era criança. Porque assim que coloquei meus pezinhos na pré-adolescência, descobri que era preciso “ter corpo” para usar biquíni, saia curta, barriga de fora. Um corpo magro, esbelto, definido, assim e assado e etc. Um corpo que não poderia ser mais diferente do meu, que afinal era uma criança, e já me via afogada em lições sobre como eu deveria ser fisicamente, e não era. Foi quando fiquei com vergonha de mim. Naquele verão de 1996, viajei para a praia com os meus pais e passei a temporada inteira usando uma camiseta gigantesca sobre o biquíni, inclusive para entrar no mar. Escrevi no diário: “não uso biquíni porque estou gorda”. Eu tinha 11 anos. O tempo passou, eu cresci, conheci o feminismo e fui compreendendo o complexo processo que faz uma menina de 11 anos sentir vergonha do próprio corpo. Acredito que já me libertei de muitas destas insanidades que enfiam em nossas cabeças, de que pre

Ingênuos, como toda criança

Nós acreditamos piamente na propaganda da TV, garantindo que só seremos felizes e legais quando comprarmos este carro, este celular ou este sabonete, tal e qual uma criança que acredita em Papai Noel e Fada dos Dentes. Defendemos com convicção o discurso deste ou daquele político, deste ou daquele partido, deste ou daquele lado, como a criança defende seu brinquedo preferido. Brigamos com dedicação por causa de bandeiras, siglas e insígnias, igualzinho a criança que briga com o coleguinha no recreio pra ver quem vai comprar o lanche primeiro. Confiamos cegamente em gurus, guias, pastores e mestres espirituais, do mesmo jeito que uma criança confia cegamente em sua mamãe. A realidade, amigos leitores, é que, enquanto sociedade, ainda estamos em plena infância mental e emocional. Agimos e reagimos feito criancinhas diante de tudo o que nos contraria ou fuja de nossa minúscula zona de conforto. Claro que, como todo ingênuo, não achamos que somos ingênuos. Como toda criança, j

O Uivo Literário

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A literatura é como um uivo; um grito no meio da inércia e inanição de pensamentos repetitivos e lições erradas que aprendemos e reproduzimos sem nunca questionar. A literatura é um berro contra a alienação, a superficialidade, a ignorância, as nossas certezas tão frágeis e bestas. E fico feliz em informar que amanhã vou uivar, gritar e berrar bem alto em prol da literatura, a única bandeira que levanto com convicção, na reinauguração da biblioteca Monteiro Lobato, da Escola Municipal Castelo Branco, aqui de Carazinho/RS. Porque quanto mais gente uivar, gritar e berrar junto, mais fácil será acordar aqueles que ainda estão dormindo!  Foto: Fernão Duarte .  

Ignorar o Ignorante?

Não é incomum o autor escrever um texto dizendo uma coisa e o leitor entender outra. Às vezes, o oposto do que o autor quis dizer. Isso é especialmente comum em tempos como este em que vivemos, de muita rixa e hostilidade. Estamos sempre armados, prontos para contra-atacar, rebater, discordar, criticar, apontar o suposto erro alheio. Compreendo o colapso do contexto. Contudo, enquanto escritora, trago sempre uma dúvida comigo, sobre como reagir diante de comentários de leitores discordantes e insatisfeitos. Ignoro? Respondo com a mesma agressividade? Respondo polida e educadamente? Todas as opções me parecem, de algum jeito, inadequadas. Ignorar me soa petulante. Como se eu não me importasse com a opinião do leitor. Pensar “nem vou responder este imbecil” coloca o autor em um pedestal onde só ele existe e tem razão, e todos que dele discordam são imbecis. Não gosto porque faz com que eu me sinta uma imbecil. Responder com a mesma agressividade, para mim, é mais inútil

Qual exatamente é a diferença entre você e eles?

Por estes dias assisti um episódio de uma série policial americana na qual os mocinhos (que obviamente eram policiais americanos) desmantelavam uma célula terrorista formada por jovens muçulmanos, que estavam explodindo-se em trens, shoppings e avenidas. Esta célula terrorista era também a responsável pelo ataque a um grupo de soldados americanos no Iraque, sendo que o único sobrevivente da emboscada ficou sem os braços e sem as pernas. Querendo justiça pelo país e pelo soldado sobrevivente, os policiais americanos prenderam os terroristas, enquanto se questionavam muitíssimo intrigados: como é possível um jovem explodir-se em nome de sua fé? “Não dá pra entender, né?”. Até aqui, nada de novo. Porém, no final do episódio, os policiais americanos visitam o soldado sobrevivente para contar que finalmente acabaram com o grupo terrorista responsável pelo ataque que o mutilou. O soldado então sorri, agradece, e pede aos policiais que não tenham pena dele, afinal, o ataque que sofreu “fo