"Uma Carta por Benjamin": 10 anos depois
Dez anos
atrás, exatamente no dia 16 de abril de 2009, a partir das 19h, eu lançava meu
primeiro livro, “Uma Carta por Benjamin”, um romance policial sobre drogas
azuis, um publicitário frustrado, uma terrorista arrependida e cartas anônimas enviadas
pelos Correios em um envelope pardo.
O livro foi
lançado pela Editora Multifoco, editado pelo meu bróder Frodo Oliveira, e teve
uma primeira tiragem minúscula: 50 exemplares.
Todo o
lançamento, do planejamento até a execução e divulgação, foi feito na base da
intuição. Até então, eu nunca tinha sequer ido a um lançamento de livro, não
fazia a menor ideia de como funcionava e nem do que acontecia, mas com 24 anos,
quem se preocupa com detalhes e resultados? Eu é que não.
Tudo o que
importava pra mim no dia 16 de abril de 2009 era que meu livrinho estava ali,
publicado, impresso, materializado, tão lindo e cheirosinho. O resultado
concreto do meu trabalho de tantos meses. Se o lançamento ia dar certo ou ser
um fiasco; se as pessoas iriam aparecer ou não; se iriam gostar do livro ou não;
naquele momento, admito: era tudo secundário. O que eu mais queria já havia acontecido,
e eu podia segurar em minhas mãos.
Para minha
sorte, Deus protege os jovens, os loucos e os tolos (eu era os três naquela
época. Pensando bem, talvez ainda seja, haha). Deve ter sido por isso que o
lançamento foi realmente perfeito. Até minha vó, que já tinha dificuldades para
caminhar, e minha professora do maternal, tia Nena, vieram me dar um abraço
apertado. Amigos, conhecidos, familiares, até alguns estranhos. No final
daquela noite, eu me sentia bêbada de amor.
Dez anos se
passaram e eu já publiquei outros dois livros, coordenei quase duas dezenas de
coletâneas, participei de outras tantas, fundei uma editora, dei palestras,
criei o projeto Nascedouro. Dez anos depois, organizei vários lançamentos, meus
e de outros autores, e inclusive aprendi a me preocupar com detalhes e
resultados. Dez anos e muito mudou: minha rua, meus medos, meus planos, meu
país, a cor das paredes do meu quarto, o acordo ortográfico da Língua
Portuguesa.
Mas a minha
literatura, e tudo o que ela representa pra mim, isso não mudou um milímetro.
Porque ainda
é a literatura, e a fé que eu trago nela, que segue movendo cada um dos meus
passos. Ainda é ela quem me impulsiona para cima e para frente. Escrever
continua sendo minha oração; meu escudo e minha espada; meu remédio, meu
refúgio, minhas muletas, meu respirador, a base da minha sanidade mental. A
literatura é minha salvação, minha redenção, minha forma de pedir perdão e de
lidar comigo, com os outros e com esse mundo sem noção. Até rimou, veja só.
Dez anos e
ainda não descobri nada que eu goste mais de fazer do que escrever. Nada me preenche,
me alimenta e me faz mais feliz do que estar diante de uma folha em branco e ali
mergulhar. A página vazia é o abismo no qual eu me atiro. Mas eu não caio. Só
flutuo e voo sem avião por aí.
Fausto Wolff
dizia que o escritor que não escreve é um assassino em potencial. Não sei se eu
teria me tornado uma assassina, caso não escrevesse, mas tenho certeza de que seria
alguém com quem não gostaria de conviver. E deve ser bem ruim não gostar de sua
própria companhia.
A literatura
me faz gostar de ficar perto de mim e é por isso que eu gosto tanto dela.
Ao Benjamin,
feliz aniversário, rapaz!
Ao Cavanhas,
aos meus pais, ao Frodo, à Editora Multifoco, a todos os lindos que estiveram
presentes na Biblioteca Pública Municipal de Carazinho no dia 16 de abril de
2009 a partir das 19h: muito obrigada, gente!
Vocês não
fazem a menor ideia do tanto que fizeram por e para mim naquela noite tão
bonita.
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Na foto de 2009, Benjamin e eu aos 24 anos, feliz porém obstinadamente marrenta, haha. |