A Teoria das Janelas Quebradas
Há alguns anos, a Universidade
Stanford, nos Estados Unidos, realizou um experimento: deixou dois carros
idênticos, da mesma marca, modelo e cor, abandonados na rua. Um no Bronx,
região pobre e violenta de Nova York, e o outro em Palo Alto, zona rica e
tranquila da Califórnia. Dois carros exatamente iguais em duas comunidades com
realidades completamente diferentes.
Aconteceu exatamente o que
estamos imaginando: em poucas horas, o carro deixado no Bronx passou a ser
vandalizado. Suas rodas, seu motor, seus espelhos, seu rádio; tudo foi roubado.
E o que não foi roubado, foi destruído. Em contrapartida, o carro abandonado em
Palo Alto manteve-se intacto por quase uma semana.
Foi então que os pesquisadores
quebraram um vidro da janela do automóvel de Palo Alto. Não demorou, e desencadeou-se
o mesmo processo ocorrido no Bronx: roubo, violência e pilhagem reduziram o
carro ao mesmo estado do veículo deixado no bairro pobre e marginalizado.
E a pergunta de um milhão de
dólares é: por que isso aconteceu? Por que uma simples janela quebrada foi
capaz de incitar todo um processo criminoso, mesmo em uma zona considerada pacata
e civilizada?
Resposta: por que o contexto
determina a maneira como as pessoas reagem. Um vidro quebrado em um carro
abandonado transmite uma ideia de desleixo, de indiferença, de negligência. Faz
supor que aquele carro não pertence a ninguém; logo, pode ser roubado e destruído.
Ao quebrar os códigos básicos de convivência, as pessoas passam a agir mais
instintivamente do que racionalmente. E aí se animalizam. E a cada novo ataque que
o veículo sofria, reafirmava-se e multiplicava-se essa ideia – ideia que nasce
em um pequenino núcleo, como uma janela quebrada, e se expande indefinidamente
para todas as direções.
Baseados nesta experiência – e
em outras, parecidas – desenvolveu-se então a Teoria das Janelas Quebradas, que
diz, basicamente, que desordem gera desordem. Assim, em regiões onde há maior indigência,
maiores necessidades e maior abandono, é natural que a violência seja proporcionalmente
mais intensa.
Se, por alguma razão, racha o
vidro da janela de um edifício, e ninguém o repara, não demorará até aparecerem
mais vidros quebrados. Se uma comunidade mostra sinais de deterioração e
desamparo, e esse fato parece não importar a ninguém, isso fatalmente será uma
fonte geradora de conflitos.
Você acha um exagero? Pois veja
só: em 1990 esta teoria foi aplicada em Nova York, mais especificamente em uma
estação de metrô, considerada uma das mais perigosas da cidade. Inicialmente, a
polícia passou a coibir delitos menores. Quem entrava sem pagar, quem urinava
ou ingeria bebidas alcoólicas em público, quem mendigava de forma agressiva,
quem pichava paredes e trens.
As pichações foram apagadas, as
janelas quebradas foram trocadas, o chão foi varrido, as paredes foram
pintadas. Após alguns meses, o resultado: 75% da delinquência ocorrida no metrô
foi reduzida, e continuou caindo, ano após ano.
Coincidência? Eu acho que não.
As pessoas reagem ao ambiente
onde se encontram. Logo, torna-se difícil cobrar civilidade de quem vive em
meio à selvageria. Por isso, enquanto tentarmos resolver o problema da
violência com violência, o resultado será um só: mais violência.