Você com certeza recebeu e muito provavelmente repassou esta piada de tempos de pandemia. Pra mim, particularmente, ela não faz nenhum sentido. Porque hoje eu completo 36 anos, mas poderia facilmente colocar 46 velinhas em cima do meu bolo de aniversário. Muitos anos se passaram em 2020 pra mim. Saio dele meio rouca, com a coluna levemente curvada e fios de cabelo branco que não existiam há 365 dias, além de uma ruga saliente entre as sobrancelhas, resultado de tanto franzir a testa e pensar: “mas que porr@ é essa?”. Não vou escrever aqui um texto sobre os aprendizados de 2020, nem sobre conquistas e realizações ou projetos e esperança em dias melhores e tudo isso que estamos exaustos de ler a cada começo de ano. Só quero desejar pra mim – e pra ti também, de coração – que nossos olhos não vejam só o que há de horrível, triste e desesperador no mundo. Que possamos enxergar também o bonito e o delicado, o suave e o sutil; o que às vezes está tão perto que nossas mãos nem conse
Sábado, dia 28 de novembro de 2020, ali por 10h30 da manhã, precisei levar meu pai para o hospital: possível crise de cálculo renal. Ele estava com tanta dor que não conseguia caminhar. Chegamos lá e pedi uma cadeira de rodas para tirá-lo do carro. A moça da recepção me disse: “pega uma ali dentro” e me apontou o corredor. Sozinha eu peguei a cadeira e sozinha levei meu pai (um homem de 1.93 de altura e quase 90 quilos) da entrada para a sala de espera da emergência, na qual umas 10 ou 15 pessoas aguardavam. Aí começou o teste de equilíbrio emocional e resignação. A moça da recepção pediu os documentos e já foi avisando: “vai demorar”. “Estamos com apenas um médico hoje”. Eu disse: “mas meu pai está com muita dor, é urgente”. Ela respondeu: “precisa ter um pouquinho de paciência”. Tivemos um pouquinho de paciência. Nada aconteceu. Meu pai gemendo de dor, quase desacordado. “Moça, chama o doutor Fulano de Tal, vamos fazer particular”, eu falei, achando que iria resolver o prob
Eis uma mania estranha e incomodativa deste ser que chamamos de humano: pedir o que não dá. Cobrar o que não concede. Exigir o que não oferece. Precisamos parar. Um teste rápido: responda mentalmente, o que você espera dos outros? Quer ser respeitado, eu imagino. Com certeza quer carinho e compreensão. É possível que também deseje ser bem tratado, bem recebido, bem acolhido, bem-amado. E por que não ganhar uma oportunidade, um elogio, um afago no ego ou na cabeça? Legal. Quem não quer, não é mesmo? Mas a questão é: você respeita o outro como quer ser respeitado? Dá ao próximo o carinho e a compreensão que almeja? Oferece uma oportunidade, um elogio, um afago? Se você respondeu não para uma dessas perguntas, é sinal de alerta. Porque não há no mundo nada pior do que aquilo que eu chamo de “mendigos emocionais”. Pessoas que parecem vampiros, e dedicam seu tempo e sua vida a sugar, cobrar, exigir, pedir, mandar. O tempo todo. Todo o tempo. Mas na hora de retribuir, de entregar