Ignorar o Ignorante?
Não é incomum o autor escrever
um texto dizendo uma coisa e o leitor entender outra. Às vezes, o oposto do que
o autor quis dizer. Isso é especialmente comum em tempos como este em que
vivemos, de muita rixa e hostilidade. Estamos sempre armados, prontos para contra-atacar,
rebater, discordar, criticar, apontar o suposto erro alheio.
Compreendo o colapso do contexto.
Contudo, enquanto escritora,
trago sempre uma dúvida comigo, sobre como reagir diante de comentários de
leitores discordantes e insatisfeitos.
Ignoro?
Respondo com a mesma
agressividade?
Respondo polida e educadamente?
Todas as opções me parecem, de
algum jeito, inadequadas.
Ignorar me soa petulante. Como
se eu não me importasse com a opinião do leitor. Pensar “nem vou responder este
imbecil” coloca o autor em um pedestal onde só ele existe e tem razão, e todos
que dele discordam são imbecis. Não gosto porque faz com que eu me sinta uma
imbecil.
Responder com a mesma
agressividade, para mim, é mais inútil e contraproducente do que ignorar. Primeiro
por que não serve de nada; o custo/benefício é muito ruim. O máximo que se
consegue batendo boca pela internet são rugas precoces. Trata-se de um dos
maiores desperdícios de vida e energia do qual já ouvi falar. Recuso-me.
E responder polida e
educadamente, que a princípio aparenta ser a melhor alternativa, também é algo
extremamente desgastante, tanto física quanto emocionalmente, pois é necessário
um grande investimento de tempo, paciência, boa vontade e dedicação. Claro que
muitos leitores, mesmo discordando, entram em contato numa boa, com educação e
argumentos, e para estes é massa responder, e até iniciar uma conversação.
Mas e o cara que chega com
ironia, ignorância, deboche, desrespeito?
Muitos me dirão, como já me
disseram: estes você ignora. E aí voltamos para o quarto parágrafo deste texto.
Estamos certos em ignorar os ignorantes, os irônicos, os debochados, os imaturos,
os infantis?
“Sim” parece a resposta certa.
Mas eu fico pensando que, se todo mundo ignorar os ignorantes, os irônicos, os
debochados, os imaturos e os infantis, nunca contribuiremos para que
amadureçam, reflitam, eduquem-se, aprendam a pensar sozinhos e se portar sem
tanta intolerância e selvageria.
E não é papel do escritor, além
de escrever, estimular o pensamento crítico, levantar o debate, fomentar o
questionamento e, justamente por isso, ser questionado também?
Não sei a resposta para todas
estas perguntas. Na verdade, ultimamente e mais do que nunca, tenho poucas
respostas. Certezas então, quase nenhuma.
Entretanto, o meu maior medo ainda
é me cercar somente de quem concorda comigo. Viver rodeada de pessoas fazendo
eco aos meus pensamentos, apoiando minhas crenças, dizendo amém aos meus princípios,
alimentando minhas certezas.
Não quero ser lida apenas por
quem pensa como eu.
Bem pelo contrário.