Qual exatamente é a diferença entre você e eles?
Por estes dias assisti um
episódio de uma série policial americana na qual os mocinhos (que obviamente
eram policiais americanos) desmantelavam uma célula terrorista formada por
jovens muçulmanos, que estavam explodindo-se em trens, shoppings e avenidas. Esta
célula terrorista era também a responsável pelo ataque a um grupo de soldados
americanos no Iraque, sendo que o único sobrevivente da emboscada ficou sem os
braços e sem as pernas. Querendo justiça pelo país e pelo soldado sobrevivente,
os policiais americanos prenderam os terroristas, enquanto se questionavam
muitíssimo intrigados: como é possível um jovem explodir-se em nome de sua fé?
“Não dá pra entender, né?”.
Até aqui, nada de novo. Porém,
no final do episódio, os policiais americanos visitam o soldado sobrevivente
para contar que finalmente acabaram com o grupo terrorista responsável pelo
ataque que o mutilou. O soldado então sorri, agradece, e pede aos policiais que
não tenham pena dele, afinal, o ataque que sofreu “foi apenas um dia ruim no trabalho”.
Ou seja: o soldado, sem braços nem pernas, sentia-se por fim orgulhoso, pois
foi brutalmente ferido enquanto servia o seu país.
Curioso, né? Pra não dizer
bizarro. Os policiais não entendiam como era possível um jovem muçulmano
explodir-se em nome de sua fé, mas super entendiam (e até admiravam) um jovem
americano explodir-se em nome de seu país. Muda a motivação, porém o resultado
final é exatamente o mesmo: morte e mutilação em nome de um ideal – seja uma
bandeira, um deus, um governo, um livro. Uma criança americana segurando uma
arma é um pequeno patriota; uma criança muçulmana segurando uma arma é um
pequeno terrorista.
Isso é bastante comum:
possuímos uma noção muito clara de justiça e bom senso na hora de julgar o ato
do outro, mas não raramente nos horrorizamos com coisas que fazemos igualzinho.
Por exemplo: desconheço um brasileiro que não reclame da corrupção do país, dos
conchavos políticos, dos desvios, do descaso com o povo. Ao mesmo tempo,
conheço poucos que devolvem o troco errado, que respeitam as regras, que tratam
o empresário bem-sucedido e o garçom com a mesma deferência, que se importam
com o mendigo, com o faminto, com o miserável. Conheço poucos que fazem o que
acham que seus políticos deveriam fazer.
Por quê? Ora, por que “com a gente
é diferente”, né? Quando o outro é corrupto bradamos indignados, mas quando
somos nós o corrupto, bem. Aí é outra história. Aí não é bem assim. Aí todo
mundo tem um motivo pra justificar.
Mas eu pergunto: qual é
exatamente a diferença entre você e aqueles que você tanto condena? Qual a
diferença entre nós e eles? Qual é a diferença entre o soldado americano e o
soldado muçulmano que matam e morrem por seus ideais?
Se pararmos pra pensar,
provavelmente vamos ficar chocados ao descobrir que somos mais parecidos com
quem criticamos do que gostaríamos de imaginar.