A mensagem e o mensageiro
Desde
que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República, a sexualidade de seu segundo
filho, Carlos Bolsonaro, entrou em pauta. Dizem por aí que o rapaz é
homossexual; que mora com um primo que, na verdade, é seu companheiro. Comentam
que, na posse de seu pai, enquanto os demais filhos de Jair estavam ao lado de
suas respectivas esposas, Carlos estava ao lado do tal primo. Desencavaram
postagens, fotografias e comentários nas redes sociais que teoricamente
confirmariam sua homossexualidade. Li, vi e ouvi milhares de piadas, muitas
extremamente grosseiras e maldosas, debochando e ridicularizando o fato de um
dos filhos do presidente considerado homofóbico ser gay.
Tem
vezes que eu não entendo a oposição na qual me incluo.
Porque,
no meu caso, o que sempre me perturbou em Jair Bolsonaro é justamente o seu discurso
agressivo contra minorias: LGBTs, negros, índios, mulheres. Desde uma época em
que eu jamais imaginava que o deputado intolerante se tornaria nosso
presidente, já repudiava com força suas declarações. Durante as eleições, a
maioria das pessoas com quem conversei, e que também se opunham ao então
candidato, argumentava basicamente o mesmo que eu: não podemos votar em um cara
que faz do preconceito sua principal bandeira.
De
modo que não tem nenhum sentido nós, que não votamos em Bolsonaro por
considerá-lo, entre outras coisas, homofóbico, agirmos como homofóbicos com seu
filho – que obviamente possui muitos defeitos, mas ser gay com certeza não é um
deles, já que ser gay não é, nunca foi e nem nunca será um defeito.
A
oposição se utilizar dos mesmos argumentos covardes que o presidente sempre se
utilizou para desqualificar outra pessoa, seja ela quem for, é absurdo. Nossa
orientação sexual não define nosso caráter, e isso deveria estar bem claro para
quem se opõe à família Bolsonaro. Fazer da suposta homossexualidade de Carlos um
motivo para depreciá-lo é sustentar as declarações de seu pai, fazendo coro ao
mesmo discurso cretino que o levou ao poder.
Seja
de direita ou de esquerda, da situação ou da oposição, acho que é hora de todos
nós nos perguntarmos: eu sou contra a mensagem ou contra o mensageiro?
Porque
lutar contra o mensageiro reforçando sua mensagem não é lutar contra não. É
lutar lado a lado.