92%
No
Brasil, de cada 100 pessoas, somente oito são capazes de compreender e se
expressar plenamente. De 100, oito conseguem interpretar e elaborar um texto,
como uma matéria de jornal ou um verbete do Wikipédia. De 100, só oito estão
aptas a realizar um cálculo básico de matemática, analisar um gráfico simples
ou localizar informações em um cartaz ou calendário. De cada 100 de nós, apenas
oito têm capacidade de formular uma opinião minimamente fundamentada.
Foi
o que mostrou a pesquisa Analfabetismo no Mundo do Trabalho, realizada pelo
Instituto Paulo Montenegro (IPM) e a ONG Ação Educativa, e publicada pelo
jornal O Globo de fevereiro de 2016. O nível máximo da pesquisa, alcançado por 8
de cada 100 examinados, é chamado de proficiente, e todos nós deveríamos deixar
o ensino médio neste patamar. Deveríamos. Porque, na realidade, menos de 10%
dos estudantes brasileiros saem da escola sabendo fazer alguma coisa além de
escrever o próprio nome.
É
duro admitir, caro leitor, mas o fato é que somos uma nação de alienados. De
esquerda e de direita, coxinhas e pães com mortadela, ricos, muito ricos,
pobres, miseráveis e classe média, do norte ao sul e do Oiapoque ao Chuí, somos
um país intelectualmente pobre e infantil, que ainda não saiu da pré-escola
mental e sequer engatinha quando se trata de raciocinar sozinho.
Mas,
veja bem: não somos ignorantes apenas por opção. Não necessariamente escolhemos
ser burros. Ocorre que, aqui, o descaso com a educação é um projeto muito bem-sucedido,
que não começou ontem e tampouco vai terminar amanhã. Cujo único objetivo é
manter a população pastando tal qual uma boiada, sem nenhuma habilidade de
questionar, interpretar, conectar, raciocinar. Assim fica mais fácil manter o
controle. Com o rebanho condicionado e domesticado, a estrutura de poder dorme
tranquila de noite, como vem fazendo desde que o Brasil é Brasil.
A
obediência da manada é recompensada, é claro. Afinal questionar, interpretar,
conectar e raciocinar dá trabalho, é desgastante e desconfortável, não
raramente até dói. Talvez seja por isso que o projeto de idiotização do povo
brasileiro, que remonta a outros carnavais, esteja se saindo tão vitorioso.
Muitos de nós amamos tão profundamente a prisão mental na qual nos mantemos
encarcerados, que seguidamente até nos orgulhamos da nossa condição de gado.
Daí por que ignorância não é inocência.
A
verdade é que, por comodismo e vaidade, quando lemos sobre os dados acima
citados, sempre imaginamos que fazemos parte destes honrosos 8%. Nunca nos
passa pela cabeça que – talvez, quem sabe, vai saber – sejamos parte dos
vergonhosos 92% que não conseguem interpretar um verbete do Wikipédia.
Inclusive,
arrisco dizer que a certeza de que não pertencemos aos 92% seja o principal
indicativo de que pertencemos aos 92%.