Sonhos Possíveis
A gente sempre
aprendeu que devemos sonhar grande. “Quem sonha baixo não levanta voo”. Eu
tinha esta frase escrita na parede do meu quarto, quando era adolescente.
Logo, fui crescendo
sonhando grande. Eu sempre quis ser escritora, e me imaginava sendo
entrevistada pelo Jô Soares, ganhando prêmios literários internacionais, dando
autógrafos para fãs enlouquecidos. Achava que seria um beatle da literatura. Não
riam; eu sonhava alto.
Quando, obviamente,
nada disso aconteceu, eu fiquei frustrada pra caramba. Desiludida. Revoltada.
Seria eu uma fracassada, que sequer conseguia se tornar um beatle da
literatura? “Quem sonha baixo não levanta voo”, eu havia escrito na parede.
Eu tinha quase 30
anos quando finalmente entendi que esta foi apenas mais uma, das muitas lições
que nos ensinaram errado. Não só eu aprendi errado, como você também, caro
leitor. Porque fomos criados – pela escola, pela família, pela igreja, pela comunidade
– para não nos contentar com pouco. Para não sermos “medíocres” ao sonhar.
Não nos disseram
para sonhar sonhos possíveis; nos disseram para sonhar com o improvável. Afinal,
“quem sonha baixo não levanta voo”.
E assim crescemos e
nos tornamos adultos ranzinzas. Adultos insatisfeitos, rancorosos, magoados, cheios
de sonhos incompletos, reclamando que o mundo é injusto e cruel.
Como se o mundo nos
devesse alguma coisa!
A verdade é que o
mundo não deve nada pra você, amigo. Assim como não deve nada pra mim. E se
queremos tirar nossos sonhos do papel, o primeiro passo é pegar aquilo que está
ao alcance das nossas mãos.
Mas não. A maioria das
pessoas fica tão indignada por não alcançar o impossível, que se recusa a
aproveitar o que é possível. Por não realizar um sonho extravagante, acaba não
realizando seus sonhos mais simples e acessíveis.
Então eu digo: faça
o que você pode fazer. Jogue com as cartas que você tem na mão. Se quiser ter
sonhos mirabolantes, tenha, mas foque sua energia naqueles que você realmente
pode realizar.
Somos uma sociedade
de famintos, formada basicamente por sacos sem fundo, que não se contentam com
absolutamente nada. Queremos sempre mais, mais, mais, mais! “Quem sonha baixo
não levanta voo”. E assim crescemos, vivemos e morremos, sempre insatisfeitos,
sempre esperando o dia em que a fome vai passar, o dia em que finalmente
“voaremos alto”.
Uma vida inteira no
vácuo, na qual não fazemos o que gostaríamos, e nem o que poderíamos fazer.
A verdade é que
pássaros e humanos só levantam voo voando baixo. E aqueles que pretendem voar
alto demais geralmente são os mesmos que não conseguem sequer sair do ninho.