Com boa vontade, dá!


Sexta-feira, dia 23 de março, passei a manhã e a tarde em Rondinha/RS, participando de sua Feira do Livro – e foi lindo, com muitos abraços quentinhos e amor de montão!
Ministrei três palestras, e entre uma e outra, eu ia até a pracinha que fica em frente à Prefeitura, onde aconteciam as atividades, para pegar um ar.
E foi nesta pracinha que eu conheci o Espaço Criançando, um quiosque que fica aberto o dia inteiro, todos os dias, e disponibiliza livros e brinquedos para a gurizada, que está sempre ali em volta.
Impossível não lembrar de nosso Mini Centro Cultural, o quiosque localizado na praça central de Carazinho – mas que, ao contrário do Espaço Criançando, fica o dia inteiro fechado, juntando sujeira e teia de aranha, e de “centro cultural” só tem o nome. Na verdade, é um depósito esquecido de tralhas e velharias.
Sempre que eu passo pelo nosso “Mini Centro Cultural” (entre aspas mesmo, por que né?), fico pensando no tamanho do desperdício daquele espaço. O quiosque vive cercado de crianças e adolescentes, que sentam por ali para matar aula e tomar Coca-Cola. Crianças e adolescentes que poderiam estar em contato com livros, com cultura, com educação, caso nosso centro cultural fosse, de fato, um centro cultural. Só que não é.
Que sirva o exemplo de Rondinha para Carazinho. É fácil de fazer, é barato, é simples, acessível, eficiente. E faria tanta diferença!
O irônico é que nos acostumamos a dizer, com muita certeza e convicção, que cidades pequenas são fracas em cultura; que não existe nada, e tudo o que diz respeito à arte está localizado nos grandes centros.
Não é o que eu percebo.
Já participei de atividades culturais e Feiras de Livros em cidades pequeninas, como Sananduva, Não-Me-Toque e, mais recentemente, Rondinha, e posso dizer que as diferenças são gritantes em relação a uma cidade como Carazinho, por exemplo, que possui mais habitantes do que estas três que eu citei somadas.
Aqui não tem Feira de Livro há anos.
Nosso Mini Centro Cultural é um depósito de cadeiras velhas.
Nossa Biblioteca Pública está abandonada.
Nossas escolas estão caindo aos pedaços, e não fosse o esforço hercúleo de nossos professores, não teriam nem lâmpada nas salas de aula.
Não existe sequer transporte para os alunos da rede pública. Quando há alguma atividade cultural para a gurizada no centro da cidade, por exemplo, ou as crianças vêm a pé da escola, ou simplesmente não vêm.
Quisera eu que em Carazinho tivesse metade do interesse e dedicação que vejo em cidades pequeninas como Rondinha, Sananduva e Não-Me-Toque.
Seríamos outra Carazinho.
Mas será que nossos vereadores, prefeitos, secretários, querem uma cidade diferente?
Eu desconfio que não.
Porque entra ano e sai ano; entra governo e sai governo; trocam as siglas e os nomes, mas uma coisa se mantém intacta, não importa quem esteja no poder: o completo e retumbante desinteresse por parte do poder público em investir e promover a educação, a arte e a cultura local.  
Obrigada, Rondinha, pela acolhida, e por me mostrar, mais uma vez, que quando existe boa vontade, não há o que não dê para fazer! 

Foto: Prefeitura Municipal de Rondinha.

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