“Ela é uma vagabunda”, disse a mulher

Aconteceu aqui perto: uma moça casada descobriu que seu marido tinha uma amante e resolveu se vingar; porém não do marido. Assim, colou por toda a cidade vários cartazes com uma foto da amante nos quais se lia: “A Fulana de Tal (nome e sobrenome) é uma vagabunda e sai com homem casado”.
Ok. Inicialmente é importante indagar: quem deve fidelidade e respeito pra esposa? O marido ou todas as outras mulheres da face da Terra?
Esclarecida esta questão, devemos observar que tal situação expôs negativamente apenas e tão somente a esposa e a amante; não o marido, nunca o marido. Das três pessoas envolvidas na confusão, só ele se deu bem. Porque agora ele é o garanhão, o comedor, o pegador, o macho alfa, ao passo que a amante é a vagabunda e a esposa, a chifruda.
E é por isso que nós, gurias, precisamos parar imediatamente de nos tratar como rivais. Afinal, enquanto ficamos aqui, brigando por causa de homem e nos chamando de vagabundas, eles apenas ganham força e se divertem afagando o próprio ego.
Eu sei, eu entendo. Desde cedo nos enfiam goela abaixo que “mulher não é amiga de mulher”. Somos inimigas forjadas ainda no berço, e o simples fato de ser mulher já torna a outra nossa concorrente natural. É o que aprendemos através da mídia, da sociedade, da escola, da família: a nossa vida é competir pra ver quem é a mais bonita, a mais desejada, a mais magra, a mais querida, a mais prendada – tudo a partir da perspectiva do homem, claro, visto que a nossa existência deve girar em torno dele. Tudo o que fazemos deve ser por, para e pelo homem.
É urgente desaprender essa lição, moças, pois ela não poderia estar mais distante da realidade. É justamente por que nos ensinaram a competir que vivemos nesta situação de penúria, violência e abandono. Quanto mais a gente briga, se descabela e se chama de vagabunda, mais os homens seguem DE BOAS, nos traindo, nos enganando, nos manipulando, nos espancando, nos estuprando, e não raramente nos assassinando também. Os números da violência contra a mulher estão aí e não me deixam mentir.
Não julgo o que fez a esposa traída; ela estava magoada e com raiva, e direcionou sua fúria para a outra mulher, exatamente como foi ensinada. Tampouco condeno a amante, que errou, é verdade. Mas, assim como a esposa, ela também fez o que aprendeu a fazer: competir, barganhar carinho e atenção, aceitar migalhas, provar que é melhor.
Nós, mulheres, não precisamos humilhar outras mulheres, e nem chamá-las de vagabundas. Já tem homem demais fazendo isso. Inclusive o homem que ilustra este texto, provavelmente está neste exato momento se vangloriando aos amigos sobre o acontecido, enquanto a esposa chora porque foi traída e a amante chora porque foi humilhada publicamente.
No final da história, as duas mulheres choram e o homem sorri. A pergunta que fica no ar é: quem é mesmo o vilão aqui?

assinado Jana.

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