Calar a boca
Dentre todos os desafios que
encaramos ao longo de nossa vida, creio que o mais complicado seja aprender a
ficar quieto. É algo que simplesmente não conseguimos fazer. Parece que
possuímos uma necessidade fisiológica de dar nossa opinião sobre absolutamente
tudo, da escalação do time à vida amorosa da vizinha, do atentado terrorista à
nova música da Anitta. O que não conseguimos fazer é ficar calados.
Acredito que uma das
explicações para este fenômeno de massa é o desejo latente e incontrolável de impor
nossa opinião ao outro; de convencê-lo de que nós estamos com a razão. Gostamos
de doutrinar. Sacamos o microfone e monopolizamos o assunto, especialistas que
somos em todas as áreas do conhecimento humano.
Apesar disso, dizemos por aí
que não nos importamos com o que os outros acham. Que cagamos e andamos para a
opinião alheia. Porém, se alguém discorda ou critica, se ousa pensar diferente,
já ficamos irritados e ansiosos. E lá vamos nós convencer o próximo das nossas
verdades absolutas.
O problema é que raramente
paramos para pensar sobre o que falamos; nós apenas falamos. Não questionamos as
nossas certezas por um segundo sequer. Não cogitamos a possibilidade de que
talvez, quem sabe, estejamos enganados. Antes disso, já estamos tal e qual metralhadoras,
atirando nossas opiniões contundentes para todos os lados.
Isso cansa, é claro. Gera um
estresse gigantesco no indivíduo. Afinal, precisamos ficar sempre alerta para,
ao menor sinal de discordância, utilizar nosso arsenal de argumentos sem dó nem
piedade.
Este é um exercício ao qual
tenho me proposto: calar a boca. Não no sentido pejorativo, mas literal. O
mundo anda barulhento demais, caótico demais, agressivo demais, e eu
sinceramente não quero fazer parte desta engrenagem desgovernada e insana, onde
tudo é motivo para discussão imediata, burra e superficial.
2018 promete ser um ano tenso.
Copa, eleições, sem mencionar a crise política, econômica, social, moral e
estrutural, que segue firme e forte. Temos tudo para ter um ano raivoso e hostil
– talvez o mais raivoso e hostil dos últimos tempos – no campo da discussão e
das divergências de opinião. Certamente famílias deixarão de se falar porque
discordam. Amigos sairão no soco porque pensam diferente. Casais se divorciarão
por não conseguirem divergir e conviver simultaneamente.
Não sejamos estas pessoas. Ao
invés de sair por aí furiosos, bradando nossa velha opinião formada sobre tudo,
que possamos parar e calar. Mas, acima de tudo, que possamos raciocinar. Que
possamos fazer uso desta característica tão singular, que nos diferencia de
todos os outros animais da Terra.
Porque para falar o que
pensamos, precisamos pensar antes de falar. E quando pensamos antes de falar; quando
questionamos antes de repetir; quando refletimos antes de doutrinar; quando
aprendemos antes de ensinar; descobrimos que o nosso ponto é minúsculo, diante
da vastidão da vista.