Os dois lados da educação de qualidade
É de conhecimento geral que a
educação no Brasil está agonizante, e não é de hoje. Segundo pesquisa da UNESCO,
nosso desempenho em educação ocupa o medonho 88º lugar, em uma lista de 127
países. Nosso currículo está defasado; nossas escolas, demolidas; nossos
professores, exaustos; e nossos alunos cada vez mais distantes das salas de
aula. O resultado? Um povo que não lê, que não vê, que não conecta, que não
pensa. Que repete ao invés de questionar. Um povo incapaz de transformar
informação em conhecimento, e de escrever uma frase de duas linhas sem cometer
erros hediondos de português.
Existe uma medida padronizada
que avalia o desempenho intelectual das pessoas baseada em resultados de testes
específicos – chama-se Quociente de Inteligência, o famoso QI. Está associado
ao lado esquerdo de nosso cérebro, responsável pelo raciocínio lógico.
Aumentar e aperfeiçoar o Quociente
de Inteligência de cada aluno deve ser um dos objetivos primordiais de toda
educação que busca a excelência.
Contudo, formar alunos mais
inteligentes não é suficiente para que tenhamos uma educação realmente de
qualidade. Pelo menos não em minha opinião.
Afinal, pessoas
inteligentíssimas também são capazes de atos bárbaros. Inteligência não é sinônimo
de honestidade, benevolência, humanidade. Inclusive, arrisco dizer que pessoas
muito inteligentes não raramente se tornam arrogantes e indiferentes, e não
representam qualquer garantia para melhorar uma sociedade violenta e desigual
como a nossa. O partido nazista, por exemplo, estava repleto de intelectuais,
doutores e eruditos, e veja só no que deu.
Ocorre que nosso cérebro também
possui o lado direito, que é o responsável pelas nossas emoções e sentimentos.
É ali que se determina outro quociente, tão importante quanto o de
inteligência: o Quociente Emocional, também chamado de QE. Deste, poucos
ouviram falar.
E me parece muito óbvio que o
problema da educação no Brasil não se reflete apenas no baixo Quociente Inteligente
de cada um; mas também em seu ainda menor e mais mirrado Quociente Emocional.
Eu conheço pessoas inteligentíssimas,
com faculdade, mestrado e doutorado, viajadas, poliglotas, letradas, instruídas,
talvez até geniais, mas que ignoram completamente os princípios mais básicos de
civilidade. Tratam mal a empregada e o porteiro, sonegam impostos, acreditam
que a pobreza é necessária e que o bandido precisa morrer. Apesar de
inteligentes, não sabem sentir. Se o seu QI tivesse a mesma medida que o seu
QE, seriam mentalmente retardadas.
A educação de qualidade que eu almejo
abrange ambos os lados de nosso cérebro. Ensina a pensar, mas também ensina a
sentir. Amplia a visão, mas também a percepção. Ensina a entender, mas também a
compreender.
Se não for assim, creio que
corremos o risco de um dia deixarmos de ser uma sociedade estúpida e violenta
para nos tornarmos uma sociedade brilhante.
E violenta.
assinado Jana.