Perguntas, eu tenho
A maioria das religiões costuma
exigir de seus seguidores a certeza absoluta. Não é permitido duvidar, sob o
risco de ofender a deus. Quem questiona não tem fé, não é fiel. Justamente por
isso, nenhuma religião conseguiu me atrair em meus 32 anos de vida. Porque eu
sou uma pessoa cheia de dúvidas, e não aceito respostas prontas e superficiais
para os meus muitos questionamentos. “Por que sim” nunca foi resposta pra mim.
Entendo que há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã
filosofia, e que sequer temos condições mentais e emocionais de entender a
magnitude do todo; mas ainda prefiro ficar sem respostas a ter de engolir
respostas simplórias para perguntas complexas. Recuso-me a me submeter a regras
que não compreendo.
A questão é que muitas pessoas
precisam de uma religião para se manter na linha. Não conseguem formar,
sozinhas, o seu próprio código de conduta, e por isso necessitam da religião
para dizer o que é certo e o que é errado. Precisam integrar um rebanho, pois
sem o pastor (ou o padre, ou o líder, ou o guru) perdem-se pelas paragens.
Por isso sempre tive medo de
pessoas que se agrupam em torno de um mesmo ideal: congregações, associações, partidos,
federações, me arrepiam até os pelos do nariz. Porque estas pessoas, em sua
maioria, necessitam do grupo para se fortalecer. Sozinhas são frágeis e
geralmente inofensivas, mas quando em grupo, envolvidas pela força do coletivo,
estão dispostas a cometer as mais variadas barbaridades. São capazes de pular
na frente de um caminhão para salvar uma criancinha, mas são igualmente capazes
de queimar um caminhão com criancinhas em nome deste grupo. É o velho conceito
de que, fazendo parte de algo grande, torno-me grande também. Tal e qual o
carrapato que, grudado no boi, passa a acreditar que é o boi.
Particularmente eu não preciso
de um grupo para me fortalecer. Não preciso de um pastor, de um líder, de um
guia, de um chefe, de um mapa, de um guru. Sou ovelha negra e desgarrada mesmo,
cheia de perguntas, cheia de dúvidas, cheia de questionamentos, levemente
incomodada e certamente equivocada. Não tenho certeza de nada, e estou
plenamente disposta a mudar de ideia assim que um bom argumento seja-me
apresentado.
Mas sigo vivendo em um mundo
repleto de pessoas crentes de que são donas da verdade absoluta. Pessoas
dispostas a matar e a morrer, a ferir e a serem feridas, a destruir e a serem
destruídas em nome de uma ideologia que nem entendem, e que sequer podem
questionar.
A verdade é que somos uma
sociedade que ainda não saiu do jardim da infância. Tal e qual os bebês, não
desenvolvemos nossa maturidade intelectual e emocional, e não possuímos o menor
senso de responsabilidade e autonomia. Seguimos engatinhando atrás da mamãe e
do papai. Precisamos de um adulto nos dizendo o que fazer. Caso contrário, como
um bebê abandonado, ficamos à mercê de nós mesmos.
assinado Jana.