Sobre os paradoxos da vida
Em
janeiro deste ano a Editora Os Dez Melhores fechou a publicação de um livro
dentro de um determinado orçamento. Em maio/junho, quando enviamos o livro para
a gráfica, só o custo em impressão dava quase o valor total do projeto (que
incluía todo o resto: revisão, edição, registros, produção gráfica, divulgação
etc.).
Em
outubro, uma escola parceira, que publicou conosco em 2019, solicitou um
orçamento nos mesmos moldes do anterior e só o valor da impressão ultrapassava
o investimento inteiro do projeto de dois anos atrás.
Eu juro
pra vocês: ando constrangida em passar os orçamentos solicitados para os
autores. Minha vontade é de pedir desculpas: “Olá, envio em anexo o orçamento
pedindo desde já perdão pelo valor...”. Só não faço isso porque a culpa
realmente não é minha.
Já vi
amigos editores postando aqui que, neste ritmo, terão de encerrar suas
atividades. Um deles até disse que fechará as portas no dia em que tiver que
vender um livro de 150 páginas por R$75.
De
fato, não existe como. Eu sou uma autora, antes de tudo, e não tenho dinheiro
para publicar pela minha própria editora, entende o que digo?
Por
outro lado, acho que nunca vi na vida tantos eventos culturais pipocando:
saraus, feiras de poesia, feiras de livro, exposição de arte, debates,
oficinas, lançamentos, teatros, shows, uma coisa de louco! Por tudo que é
canto, na periferia e no centro, na cidade grande e minúscula, feito por
famosos e anônimos, no anfiteatro e na rua, do Oiapoque ao Chuí. Quase como um
grito de reação coletivo, de resistência, até de teimosia: se não vai por aqui,
vai por ali ou vai por lá, mas vai. AH SE VAI!
Eu me divido
nestes dois sentimentos também: por um lado, um desânimo grotesco e gigantesco,
por vezes transformado em genuíno desespero. Por outro lado, uma esperança
bêbada, louca e insistente que surge toda vez que vejo (e eu vejo todo dia)
anúncios de eventos, projetos e iniciativas culturais acontecendo por todo
lugar. E toda vez que esta esperança bêbada aparece, ela me coloca mil ideias
na cabeça, fazendo o desânimo e o desespero virarem pulso, impulso, combustível
que se converte em sangue no olho. Movida pelo amor tanto quanto pelo ódio.
Dizem
por aí que, em tempos de crise, a arte e a cultura tendem a se fortalecer. E eu
acho que talvez seja por isso: porque os artistas passam a se mover, além do
amor, pela gana, pela revolta, pela raiva dos promotores da crise e seus
apoiadores.
Arte é
resistência. Mas quando ela é atacada, desmontada, perseguida, calada, a arte
vira questão de sobrevivência.
E nós
vamos sobreviver. AH SE VAMOS!
Mas
infelizmente com muitas, muitas baixas.