Manifesta!
Pra mim, é sempre difícil
escrever sobre um momento em que senti mais do que raciocinei.
Talvez porque as palavras
exijam um certo ordenamento de ideias e os sentimentos, vocês sabem, costumam
ignorar sumariamente qualquer ordenamento ou ideia.
Por isso eu pego
emprestada a imagem, que na hora de contar sobre sentir pode ser mais hábil do
que mil palavras. Algumas imagens são, de fato, capazes de conceituar uma
emoção.
Para falar da Festa da
Cultura de Carazinho, a Manifesta, compartilho essa foto, registrada pelo
sempre presente Fernão Duarte.
Foi durante a
apresentação de dança do Centro de Artes Bianca Secco. O único bailarino, entre
as bailarinas. Veja bem: só o fato de ele estar ali já é, em si, uma revolução,
porque sabemos que não é fácil e muito menos indolor recusar os moldes que a
sociedade já tem prontinhos, só esperando a gente se encaixar para nos prender
ali pra sempre.
É preciso coragem, força,
teimosia e impertinência para ser quem se é e ocupar os lugares que nos fazem completos.
Não somos produtos para caber em embalagens rotuladas. A vida, poxa, não é só
cinza e concreto e boletos e relógios. A gente quer inteiro e não pela metade,
já dizia a canção.
Portanto, pra mim, essa
foto é sobre enfrentar o que nos afronta, mas com beleza, com leveza, com arte.
Erguendo a cabeça quando mandam baixar e se expondo de peito aberto para o
mundo; afinal, manter-se constantemente na defensiva não é jeito de viver.
Assim foi a Manifesta: uma festa para lembrar a todos e a cada um que não estamos sozinhos nessa dança. E é muito mais fácil dançar quando todos em volta estão dançando também.
Só
precisa ouvir a música tocar.