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Mostrando postagens de outubro, 2018

Diálogo é para quem sabe dialogar

Se houve uma lição que eu aprendi nestas tenebrosas e inesquecíveis eleições de 2018 é que diálogo é para quem é do diálogo. Por isso se chama diálogo e não monólogo: porque pressupõe a existência de duas ou mais pessoas trocando ideias. A questão é que, para que haja, de fato, diálogo, todas as partes envolvidas precisam estar abertas para mudar de opinião, e é aqui que reside o problema. Certezas costumam minar diálogos, pois ao invés de ampliar o debate, o restringe e o atrofia. A convicção cega de que a verdade é nossa propriedade nos faz adaptar a realidade às nossas crenças, e não o contrário. Um perigo, como estamos vendo. Nossa falta de discernimento e raciocínio chega a tal ponto, que vivemos a era das fake news, algo que só se cria em um país intelectualmente subdesenvolvido. E o pior: notícias falsas que são verdadeiros absurdos; que até uma criança de cinco anos deveria saber que é mentira. Nós não sabemos. Nós acreditamos, porque temos muita certeza, e compartilhamos

Morreu um pouco de mim

É como um luto. Uma sensação de ter perdido qualquer coisa importante demais para se perder: um número de telefone de quem sabe o que eu não sei; uma esperança tola de pertencer, de merecer, de aprender o que não é permitido entender. É só o fim de algo cuja vida não resiste, não persiste e não procede à morte. Continuou escuro ao amanhecer. Estou sem sorte, sem norte, sem bote, capote ou qualquer meio de transporte para me salvar da tempestade forte que me engoliu sem eu perceber. Entendo que não há jeito de deter o temporal e o luto; que a luta já foi perdida; que não dá mais para vencer. Sem resistir e nem me desculpar pelo transtorno, eu me entrego e tombo pra dentro da escuridão do alvorecer. Caio neste abismo e paro com este esforço inútil de continuar em pé, fingindo força que nem tenho. Não nasci mártir, não sou fortaleza. Não tenho certeza, linhagem ou nobreza. Sou correnteza a correr. Não transformo mais a dor em raiva; só deixo doer. Abraço a tristeza;

O leitor-censor: onde vive e do que se alimenta

A censura, segundo o dicionário, é “o exame de trabalhos artísticos ou informativos que busca filtrar e proibir o que é inconveniente do ponto de vista ideológico e moral”. Do ponto de vista ideológico e moral do censor, acrescento. A ideia fundamental da censura é calar quem discorda, geralmente para proteger os próprios interesses. Houve um tempo em que a censura vinha em forma de canetaço, bem descarada e escancarada; hoje, no entanto, ela veste mil máscaras, e surge tão discretamente que você nem percebe que ela está ali. Porque agora não é mais o governo ou o ditador que intimida e silencia. É o censor disfarçado de leitor, que eu carinhosamente apelidei de leitor-censor. A internet é o seu habitat natural; é onde vive e procria, alimentando-se do mesmo veneno que espalha. Protegido atrás da tela, é dali que garimpa quem não pensa como ele e ataca. Também costuma andar em bando, para parecer maior e mais forte do que de fato é. Entretanto, o leitor-censor geralmente não se